31/12/2010

#tweetumdesejopara2011

Dois Mil e Dez foi um ano justo. Digo, tudo o que ele deu a quem quer que seja jamais poderia ser visto como canalhice, porque neste ano o Brasil não foi o único a mostrar a cara. Ah, Brasil! Nosso circo ainda está armado. Basta comer do pão. Nossos princípios já foram modelados no joguinho de “Show do Milhão” mesmo.
Eu vi, 2010, as pessoas te agredirem. Eu vi pessoas. Pessoas. Relógios quebrados e duas mãos vazias. Não vi pessoas. Vi imagens embaçadas, distantes; cabelos, costas, nádegas e calcanhares. Nunca rostos! Sequer houve a tentativa de cara-a-cara da parte deles. Nunca puderam abraçar, porque só havia a carne. E todos os quase cinqüenta sempre couberam na cabeceira da minha cama e meu abraço os abraçava indistintamente. E eu acordava com as mãos trocadas por sobre os ombros.
Desliguei a tevê, enquanto gladiadores lutavam no Coliseu Midiático para venderem estereótipos. Eu vi a Revolução Industrial Amorosa. Vi amizades serem vendidas em bilheterias. Senti saudade de ninguém, porque eu despi os que eu amo. Descasquei-os. Suguei os gomos. Expulsei as sombras que acompanhavam suas cascas. Emudeci, ensurdeci. Mal enxergo. Tenho 2010 motivos para rir do pessimismo.
Dois Mil e Onze, eu conheço os teus clichês. Retuitar-te-ia se pudesses dar-me verdade. Verdade dos outros ou sobre os outros. Cartas que olhem nos olhos, abraços lidos. Virtualiza o contato físico e materializa o virtual. Quero as caras à mostra, sem racionalidade ocular. Chega de esperança! Eu só quero fé.

25/12/2010

Bate [n]o sino.

          Dezembro maquia problemas familiares. Ninguém acredita mais na magicidade do Natal. A essência dessa data está sendo esquecida, esmagada pelo comércio. O Natal tem sido um eco de estética; um adeus frívolo à fé.
          Esperança é ainda uma fila de espera, porque ninguém acredita mais na ação do presente. Aliás, a ação é sempre uma perspectiva para o futuro. As pessoas temem mais do que respeitam. Rezam quase que por osmose. Não respeitam o Natal. Nem se trata de respeitar esse nome, porque isso não é um slogan, trata-se de paciência para compreender o que isso denota.
          Esse ócio humano é o palco da atuação capitalista, porque o capitalismo depende de futilidade e a futilidade, por conseguinte, depende do vazio. Vazio transbordado de qualidades bipolares. As árvores robustas e presentes já bastam. O materialismo fora fortalecido e incentivado pelo sistema. Sistema! E ninguém diz não.
          O Natal tem sido uma barganha. O próprio abraço e as palavras têm sido barganhas. Tudo dentro de um grande contrato. Compra-se sentimentos, lágrimas. Verdade. Não se chora por saudade. Pessoas choram pelo desespero de serem impedidas de conjugarem o verbo ter. Tomar posse de tudo. Todos querem protagonizar numa peça já escrita.
          Dezembro é um carnaval antecipado. Presentes, discursos e o ensaio sobre o amor. Natal é um beijo frio à neve. É o toque realista da moeda. É a união mais desunida. É família.
          É a ceia.

Publicado no site Jornal Jovem.
Repórter Jovem Comenta - Especial - Dezembro 2010, Nº 20.

20/12/2010

Noir εt Rouge.

          Sabe-se apenas que houve algum tipo de mudança. Nem ela sabia. Sua mocidade ligada à hipocondria de prender-se ao destino, mesmo incerta sobre a existência de algo tão contraditório mediante seus princípios tão bem enraizados e detalhistas quanto um projeto arquitetônico. E seus sonhos tão palpáveis, carregados de um realismo cruel — quando se tratava dela —, chegavam a raptá-la da sociedade, tão medíocre, que sequer amparava o egoísmo.
          A sagacidade daquele moleque era tão atraente quanto aquela coisa muito dela de querer investigar os outros; saber se ela se encaixaria, fosse às formas corporais ou nas almas que ela, posteriormente, roubaria para si. Eles eram como uma medalha; assim: dois aliados subordinados; fiéis. O amor seria como uma oração inóspita se eles não tivessem tido cautela. Aqueles dois corações nus seduziam-se reciprocamente. Ele mergulhado em sua sobriedade e ela apenas cantarolava seus ditos românticos que embalavam as mentes periféricas daquele bando de tolos que apenas falseavam ouvi-la.
          A carência daquele chistoso fora satisfeita por aquela cuja anatomia a transformava num inseto vulnerável, mas aquela boca inquieta feminina tapeava os rostos daqueles analfabetos funcionais por opção. Ele sabia o que estava por trás do cinismo cuspido por ela, que todos aplaudiam. Ela nunca pôde controlar a língua. Espevitada, por herança genética. Ele se embalava no balancinho da varanda e esculpia aquele corpo imaginário à mão. Aquele corpo que cresceu de dentro para fora nunca amou ou precisou desesperadamente do contato à noite fria. A maquiagem que a mantém angelical é o pó compacto, compactado pelos versos da oratória que remetiam as memórias fragmentadas de seu pupilo gemelar.
          Eles sempre souberam como lidar com exageros. Sabiam dosar a quantidade de sentimentos que muitas vezes não ultrapassavam a ponta da língua. A liberdade denotava a intimidade espiritual daqueles dois corpos. O abraço preenchia espaços vazios, ainda que persistisse o vazio microscópico. Eles nasceram grudados, em diferentes ventres. São muito pouco sem essa cola poderosa que prende seus pulsos.
          Pulsa.
          Eles não estão ligados por carinho. Isso é só a amostra. Estão ligados pelo medo. Medo de expulsarem verbalmente a vida breve. Medo de romperem o silêncio.
          De morrerem sós. E mais ainda de viverem juntos.


Publicado no site República dos autores.

17/12/2010

O coveiro e a esfinge.

          A pessoa da qual tu depreendes a capacidade intrínseca de refletir nas tuas formas corporais espelhadas é propriamente aquela da qual a tua alma se serve. Ela entendeu isso, ainda que tenha sido da forma mais inócua possível: uma adição aritmética. Fora uma gestação de 18 anos — Extrauterina —, cerebral. Uma negociação subtracional e um terno aceno ao coveiro.
          A interação entre duas almas é, no entanto, como uma prisão. Ela nunca hesitaria em vê-lo, ainda que ele representasse o polo negativo; um cisco no olho. E as memórias muito bem dispostas no HD cerebral que ela insiste em proteger. Os ouvidos atentos da jurisprudente sempre souberam a sentença, dentro da lei da vontade, para aquele caso concreto.
          Ela ainda engatinha. Mas já ensaia os passos para quando aquelas duas mãos masculinas a soltarem. E aplaudirem-na mediante o jardim que ela se encarregou de manter.
          As flores murcharam e o coveiro construiu o próprio jazigo, onde habitam as migalhas de amor, que ela apenas tem devolvido. Ela não é mais aquela hipérbole de antes, pois a física a convenceu dos benefícios do par Ação-Reação.
          Ela é exatamente o resultado das inconfidências dele. Essa figura enigmática que ela tem otimizado em seu interior é tão somente sua válvula de escape. Escapar do melhor que já lhe aconteceu; daquele que construíra a catedral do matrimônio, demolida posteriormente.
          Ele que conjugou todos os verbos, fora destruído por três letrinhas que ela disse ao som da música da harpa encantada. Três letrinhas tão certas quanto o rosto despido daquele que sempre amou.
          Ninguém.

12/12/2010

2012 também é mentira.

Estamos a dois anos do fim dos tempos. Até em filmes descrevem o que acarretará o fim. E as igrejas lotam. É como uma barganha com Deus, há de se dizer. A fé é uma garantia; um sentimento eficaz, pois ninguém conseguiu ver o rosto de Deus, suponho. É claro que já tentaram coisificar a figura do Deus mais famoso de toda a História, mas já basta, no nosso caso, saber que Ele é brasileiro. Basta que dê certo, além dos créditos ao misticismo.
Mentira! Ora, como um ser humano nato, tu nunca acreditarias em algo tão pouco palpável. Mas há sempre uma possibilidade de contrato. Lembras das promessinhas canalhas que tu fizeste só porque tu querias encobrir uma mentirinha bombástica? Para quem tu apelaste? Vais dizer que chamaste o Chapolin Colorado? Deus: quatro letras transformadas numa simples interjeição!
O problema não está na cornucópia interrogativa. Não! Está na sponcio dos que respondem. Verdades, mentiras. Tudo permeia uma aritmética nula.
Não nos desfazemos de nossa pretensão de querermos transcender. Essa coisa muito nossa de deduzir com base em fortúnio. Somos superficiais. A relatividade é uma cólera humana. Ora aplausos, ora vaias. Antagonismos que sustentam a nossa integridade; desrespeitam qualquer tentativa de antecipação. Aí tu esperas. Desesperas-te. Vemo-nos em 2012. Ou não.

11/12/2010

Apesar das vírgulas.

Ninguém mais acredita no poder da gramática; na sutileza bem escrita que sublimaria um ‘NÃO’, por exemplo. Ainda assim querem verbalizar sentimentos. Atiram tudo dentro de um envelope e enviam por sedex ou copiam um texto super mal escrito de um site qualquer e pronto: eis o seu depoimento de ‘Feliz Aniversário’.
Transformaram sentimentos em clichê. Assim: sem dó. Conjugá-los tornou-se algo tão espontâneo quanto dizer ‘Bom dia’, de dia ou ‘Boa noite’, à noite. Perderam o sabor do mistério. Eles são quase cuspidos subitamente. Habitam a vontade. Só. Digo, sentimentos existem porque tu os alardeias desesperadamente. Sempre é mais simples escrevê-los do que dizê-los. Pior: sentí-los deixou de ser prioridade, há tempos.
A linguagem é uma salada. Um mal entendido. Misturaram o que deveria ser indizível com o óbvio. Pluralizaram algo concreto, ainda que o concreto independesse de visibilidade. Complexizaram a simplicidade do verbo sentir.
As frases justificam o que nem o teu rosto consegue descrever. Essa coisa banalizada é só uma armadura. Os teus sentimentos são datados; um discurso auxiliado pela tua bela entonação. São um texto dependente de sintaxe.

09/12/2010

o d э м

Liberdade é utopia; amor é um sentimento desconhecido; pessoas são dicotômicas. O culpado habita a tua consciência, impregnada por doutrinas e orgulho; pela moral que controverte o teu espírito. É ele o guardião das escolhas influenciadas; aquele que vela o teu sono e o teu show. O substituto da ética. A verdade mais obscura em noites ensolaradas. É o apaziguador entre hipocrisia e moral. É um sentimento epífito do caráter do hospedeiro.
Ele é o sentimento mais independente de todos. Faz da razão seu brinquedinho. Ele é pulso; o teu combustível ou a tua desgraça. É propriamente o criador d’outro sentimento que liga as pessoas, mas que sozinho não é capaz de mantê-las: o amor. Esse sentimento do qual eu falo é a ambição do verbo amar. Ele é o antídoto; o fator-chave das escolhas conflitantes que tu fazes.
Ele te desmoraliza e nem é meio aos outros. Ele é muito mais sagaz: destrói a tua imagem diante dos teus olhos. Ora, agora vais dizer que tu és o maior revolucionário da História? Coragem é uma piada, porque tu já tens um template de vida. Moral, a menina crescida que te desafia; que te acompanha desde tenra idade. Ela é o que determina o que é certo, o que é normal. Repetição. Um livro em branco. Aí é quando ele se manifesta traiçoeiramente como instrumento dessa modinha, pelo ônus de tu viveres [n] uma sociedade hipertensa.
Esse sentimento é criação divina. Intocável pelos homens. Ele regula o comportamento do estar humano. É a maçãzinha que Eva nenhuma consegue alcançar. Humanos estragariam tudo com essa mania de razão. Mal sabem que ela está se vingando por ter sido traída; mal interpretada. Regurgitaram-na. Abriram aquela caixinha e permitiram a liberdade dos males, a despeito de um: esperança.
Ele fora concebido por esta hermafrodita. Tornou-se o pequeno bipolar. Ele é o imã das sensações; antítese. A interseção entre corpo e alma. É o tempo para quem espera. É ameaça para os que perdoam. Ele mente honestamente. É o mundo evoluindo de forma regressa. É o retrovisor e a matemática. Tu internalizas os mandamentos imperativos dele e os refletes no teu rosto. Ele está escrito nas tuas expressões faciais e nas tuas memórias. Ele vive apesar da Moral; da Esperança; da Dúvida; do Orgulho. Porque é disso que ele é feito.

06/12/2010

Pupilas e pulsação.

Dentro das teorias sobre o amor há um pluralismo de idéias iniciais com um mesmo fim: felicidade. Não dá para ser feliz o tempo todo. Não se ama o tempo todo alguém, a não ser que ele te seja servido diariamente. Como regar flores, sabe? Amar alguém está muito além da matéria; da inspiração dos sentidos. Tu amas por um motivo tão íntimo que mal consegues transformar em palavras.
Palavras e sentimentos são inversamente proporcionais, porque sentimentos deveriam ser anônimos. Nem o exterior da caverna que venda os olhos é capaz de descrevê-lo. Tu não o sabes, mas queres transformá-lo em um corpo; num rosto. Objeto. Desposá-lo até exaurir a tua quota. Tu o vês e o sentes. Nessa ordem.
Amor não tem um conceito, embora pareça fácil descrevê-lo poeticamente. Ele não existe! Nem mesmo o verbo, até que haja antônimos eficazes. Ao contrário do que a maioria pensa, o amor não nasce entre dois seres. Não! Isso é boato! O amor atormenta a solidão. Ele grita por ter sido esquecido; desconhecido. Amor não é bom. Nem ruim. É como um tornado; um gigante invisível condensado pelo o que ele arrasta consigo. É desastre. É recomeço.
Ah, os olhos erram tanto! Olhos roubam de ti a espontaneidade; a liberdade. É como um grande espião do teu cérebro — o grande senhor das escolhas —, que também ouve, toca e beija quase que concomitantemente. O cérebro espalha a novidade por todo o teu corpo acompanhando a trajetória sanguínea. Deus, taquicardia que te faz lagrimar! É sublime! E, no silêncio, ele pulsa. O pequenino coadjuvante que protagoniza só nas cartas que tu escreves. Teu coração é só um súdito guiado pelos cochichos chicoteados pelos teus olhos. O belo, a estética. Um caráter descascável. O que a epiderme acalenta.
És mesmo capaz de amar até a última gota; além do toque; além do beijo; além das cartas? Saberias descrever o outro apesar do tempo e da distância? Amas o suficiente para deixar o outro ir, como num grande efeito borboleta? Teus olhos resolutos negam. Perderias os demais sentidos  fechando os teus olhos. O teu amor é uma escultura palpável; visível. Tu amas. Não vês, não tocas. Tu choras. Te enganas.


Publicado no site Café Colombo.
Publicado no site República dos autores.

04/12/2010

Orestéia acadêmica.

Eles apenas ambicionavam a aprovação no vestibular. Sequer pensaram nas conseqüências; no que ficaria no passado mais próximo do triunfo. Seria um tapa sem mão! Quase um Império; assim: um reinado. Ora, bobos são aqueles que nem se importam com esse status! Mais bobos são aqueles que vivem do ou para o status. Eles venceram!
Cá entre nós, faculdade é onde tu aprendes, há de se dizer, a contar a tua história como um conto contado através d’uma tela pintada. Ganhas amigos e notoriedade. Falas demais. Ouvem os que estiverem dispostos. Lá não é lugar para fazer os melhores amigos que tu já tiveste. Isso é tarefa do colégio; da tua infância. Do passado, lembras? Lá, na faculdade, tu tens do melhor: álcool, cigarros, risos entorpecentes, atores. Luxúria! Ah, não vamos generalizar! Tu podes encontrar inocência, silêncio e autenticidade. E anonimato. Escolher, eis o verbo-chave! Tu escolhes conjugar quaisquer outros verbos com uma ajudazinha da ilustre influência!
Lá tu aprendes também a arte do puxa-saquismo, um insulto implícito ao teu ego, digamos. Tu aprendes, sobretudo, que corrupção é uma fase. Bem intensa! Que mal há na cola, por exemplo? Nada não! Aliás, é só uma demonstração modesta da tua eventual ausência de porquês. Nada demais! É claro que tu tens motivo para isso: medo. Medo da reprovação, a grande protagonista das metamorfoses morais e a camaleoa das relações sociais.
Aí é chegada a hora de beber um gole de mediocridade! Sabe, dar à ironia um pouquinho de eloqüência. Dirigir carros sem combustível algum: homens. Essa pluralidade de personagens que tu passarás a dramatizar serão as tuas Erínias. Arrogâncias entrarão num embate taliônico e a verdade repousará em berço úmido. Aplausos já não satisfarão as tuas expectativas, porque uma sala é menor que um auditório. A grandeza das pessoas em seus respectivos lugares.
É uma herança; sucessão familiar. No começo é uma lei. Tu obedeces. Agradeces. És livre. E a faculdade é o Processo: as leis, os juízes e uma sentença.

26/11/2010

[Con] Corrente [za]

E o que os meus olhos têm visto é incapaz de vislumbrar-me. Nem sei que horas são. Se já é tarde. Pouco importam os olhos que me viram ou falsearam ver-me. Todos permitem a minha partida sem êxito algum. Esse meu corpo, pintado de tantas cores, escureceu. Tolice! Pura tolice do meu antônimo em insistir ficar. Como é desagradável! Deixa, retiro-me! Incorporo no humor homoafetivo dos homens. Homens! Corpos mutilados, com almas em coma. E sonham comigo.
Disse, certa vez, uma frase roubada d’algum livro que habitei:
— Felicidade é a capacidade de ser. Ser é saber. Saber ser feliz!
Envaideço-me por morar junto aos pobres. Ricos. Corações abertos. Nada a perder. Nada mesmo! Pobres são os ricos que colecionam papéis com ilustrações engraçadas. Acreditam que eu suporto esse teatrinho promíscuo? Apenas assisto ao show. Depois volto para os meus escritores analfabetos. Longa história!
Esse coração plural, que pulsa no conceito criado pelos que me viram, está extremamente colérico. Estou enferma. Herdei a preguiça dos que convivi. Antes, eram meus inquilinos. Eu os protegia do meu antônimo inquieto, mas ela infiltrava-se na fraqueza d’um copo vazio, d’um corpo vazio. Cansei e adormeci por algum tempo, o bastante para ela seduzí-los com desilusões de olhos úmidos. Sou uma lembrança, um aniversário, um abraço, um beijo. Sou um toque! Mais carnal, hoje, do que espiritual. Uma fotografia. O medo, desejo, pecado. Salvação!
Um país pouco atraente acenando para mim. Mal sabe que cansei desse traje uniforme que os deixa de rostos opacos. Iguais. Não querem saber, porque já sabem. Não perguntam, porque já têm as respostas. Não sabem. Sabem nada de mim! Aqueles papeizinhos ilustrados corromperam a minha leitura e os livros se fecharam. Compraram, enriqueceram, empobreceram, desiludiram-se, furtaram, assassinaram. Aplaudiram meu antônimo! Abandonaram-me e minha irmã gêmea desigual sorriu. Sou muito menos do que eu era. O que eu sei não basta. Não sei quem eu sou. Ensina-me, tristeza!

16/11/2010

Ninguém te ama.


Teu coração é descrente
Ausente
Frio!
Amas fulano
Ciclano
              Fugiu.
Teu medo invisível
É arco-íris daltônico
És o antônimo do querer
E queres
                 Viver.
Teu amores falidos
Amigos distintos
              Distantes
Dispostos na estante.
Ninguém te ama
                     Amas ninguém.
Alguém ainda vive
                         Insiste
                         Sofreu.
Desfibrilador
                        Dirá:
"Ninguém te ama...
                                   Como eu."

10/10/2010

Fé de barro.


Vejo um mar vivo
O arcebispo sussurrando a esperança
A Mãezinha na Berlinda
Com seu manto burguês
Lágrimas, risos
Porque a fé está lá
Guardada! Trancada!
Velada pela sinceridade infantil
E a procissão caminha
Com destino sabido
Definido pelas promessas
Que aquela mimosa imagem fez
Ave, ave
Um “salve-se quem puder”
Troca-troca que Deus não quer
O teu Círio é feriado
Uma máscara de Fevereiro
Por que tu gritas?
Teu desespero é inútil
Neste ano fútil
Que deixaste passar
Vai! Continua olhando, rezando.
Religião bonita
Maria, Maria
Fotografia artesã
Para ser lembrada
Não adorada
Ela não está na Berlinda
Que tu esvaziaste
Com a tua fé de... Barro.

07/10/2010

Sê feliz!

Estampa em teu rosto
Um sorriso sarcástico
Joga fora
Teus sentimentos de plástico
Uma vida em vão
Para quê tanto desgosto?
Sê um pobre palhaço
Um louco, mais leve. Solto
Ninguém merece as tuas lágrimas
Ninguém merece o teu silêncio
Chora!
Cala-te!
Sê como uma nota musical
Assim: indesvendável
Sê interpretável
‘Pra ninguém te achar
Camufla-te nos olhos alheios
Olha-te no espelho
Quando quiseres voltar
Voltar a ver tua alma
Esquecer as caras, palavras
As cartas que te escreveram
Não! Faze melhor!
Lembra-te deles!
Só dos bons momentos
Guarda a caixa dourada
Vive tudo de novo!
Ignora-os, agora
Tem o que eles eram!
‘Pra tu seres mais
Ei, sê feliz!

05/10/2010

Eu desisto!

Não que eu nunca tenha pronunciado esta frase antes, mas, a bem da verdade, é penoso assistir ou viver as consequências que, até mesmo, a interpretação mais inócua desse verbo aí, que qualquer um é capaz de conjugar, pode trazer.
Sabem o que eu vejo? Eu vejo talentos exaurirem, amores definharem, certezas incertas e corações vazios. Pior: mentes vazias! Eu vejo saudade existir só por preguiça. É, seus preguiçosos! Vocês são os amigos mais displicentes do mundo! É odioso lembrar daquele tempo em  que nós nos víamos sempre e saber que não era por amor. Ora, agora vão dizer que não se sentiam OBRIGADOS a freqüentar o colégio?
Eu sempre tenho alguéns de reserva agora, no caso de eu, do nada, desamar certas pessoas. Desamar é um neologismo sacana que as pessoas chamam de verbo. Eu também, agora. Amo ninguém, porque ninguém me ama. Isso não é crise existencial. Isso é a verdade que eu criei ao lembrar que eu já olhei nos olhos de alguém que, do nada, me virou as costas. Não ligo!
Se tu és insubstituível ‘pra mim hoje, o fulano também é. Não amo vocês. Repito: NÃO AMO VOCÊS! Mas eu não desisto. Não, eu sempre faço melhor. Eu respiro esses verbos que vocês conjugam levianamente. Eu respiro o amor. O meu, o teu e o do fulano também.

13/09/2010

Sociedade careta.

A tua cara é triste
Cara de poeta
Falso poeta
Não sabe brilhar
Brilhar é viver como eu vivo
É ver o que eu vejo
Ter o que eu tenho
É ser como eu sou
É tudo culpa
Da sociedade careta
Que sabe nada
Não sabe amar
Amar é saber conjugar
Tu vives?
Tu vês?
Tu tens? És?

Enquanto isso, tu podes usar o "você".

05/09/2010

Acróstico*

Pouco importam as circunstâncias, amigo
Loucos jamais pedem auxílio à sanidade
Esta abstratividade que compartilhamos
Nos torna hóspedes da felicidade
Os outros não entendem, amigo. 


* Ao meu grande amigo, Ewerton Gomes. 


03/09/2010

Quem vos escreve.


Não sei se esta é a melhor maneira de fazer com que as pessoas me conheçam melhor. Mas prefiro isto a ‘achismos’. Então, apenas leiam e escolham acreditar ou não. Pouco me importa, até. Senti necessidade de escrever isto e socializo com quem se dispuser a ler.
Não entendo a necessidade que as pessoas sentem em ouvir ou ler coisas para sentirem algo. Ora, eu prefiro saber de outro jeito. Prefiro, sempre, a abstratividade. Não falo de indiferença aqui. Não! O que eu espero das pessoas é que elas demonstrem coisas. E que digam, sim. Mas o dizer é tão pequeno se comparado ao saber, entendem? Não seria hipócrita em dizer que eu não gosto de ler ou ouvir coisas agradáveis, mas não sou tola em acreditar em tudo o que me dizem. Medo, eu? Ah, pelo amor de Deus! De quê, já? Podem me chamar de Impulsiva. Não irresponsável! Isso, não. Eu sou sensata, até.
Querem saber? Eu rio da hipocondria que eu noto em muitas pessoas. Tempo, tempo, tempo. O que o tempo tem a ver com a vida, gente? O quê? Pensar no tempo é estar no fim. Eu controlo o meu relógio e sei o que eu quero da vida sem precisar ter medo dela. Não quero muito luxo, não quero glamour e nem quero aplausos. Quero ter o que me basta. Ter o bastante me extasia. Eu acordo todos os dias e digo: “Obrigada, Deus! Estou melhor que ontem!”. Sabem por quê? Porque eu sou o meu único referencial e a competitividade, há tempos, não me assola. Se tu és assim, competitivo demais, estás entre as pessoas mais medíocres do mundo. O que tu tens agora? Um bom currículo? És melhor que o coleguinha de sala de aula? Ou o queridinho do professor? Isso é não ter nada! É não poder ser algo! É não se permitir viver.
Não pensem que isto é desrespeito. Não. Desrespeito é omitir os meus pensamentos. E se há algo que, deveras, me fascina é a autenticidade das pessoas. É disso que eu vivo. Brenda Lee é um livro escrito por vários escritores. A minha participação, apesar de breve, é significativa. Eu conheço todo o resto, porque fui eu quem colocou o resto lá dentro. Eu escrevi a introdução da minha história.
Permito-me ter uma vida com começo, meio e fim: Eu, os outros e o tempo.

24/07/2010

Tic - tac

Andei pensando. Não penso mais em pessoas. Não sinto mais compaixão. Não sou mais de carne e osso. Ah, eu só sinto falta do coração e do meu cérebro. Eles mantinham-me viva, sabe?. E esse relógio aqui? Deus, ele parou! Eu sabia, até. Mas eu andava muito ocupada. Sempre muito ocupada! Acho que a minha memória roubou algumas coisas ou eu mesma joguei fora o que hoje, ironicamente, posso dizer que... Ah, deixa. Quem aqui quer ser feliz? Eu juro que eu queria, mas eu não consigo!
Eu irritava as pessoas de propósito. Quem ligaria para os sentimentos delas? Eu, hein! Aposto que fariam o mesmo comigo e eu sempre achei que elas escondiam coisas umas das outras. É sempre bom investigar um pouquinho. Ninguém sabe o que eu penso mesmo. O melhor de tudo era que, vezen’quando, eu acertava!
Agora eu estou aqui. Dizem que eu era uma bela escritora. Não lembro muito disso, mas fico feliz em saber que fui lembrada ou condecorada. Andam me testando neste lugar. Disseram que eu tenho sorte e eu devo ter mesmo. Eu tinha vários amigos lá, sabem? Isso foi antes de me trazerem para o que chamam, aqui, de paraíso. Ai, eu me sinto um balão. É engraçada a sensação. O Miguel disse que é justamente por eu não ser mais de carne e osso.
Nossa! Eu não sei se eu fiz tudo o que eu queria fazer. Deus! Será que eu disse o que eu tinha para dizer? Será que eu amei quem eu tinha de amar? Ah, não sei! Amar eu sei que eu amei. Eu ria muito com aqueles loucos. Não tão loucos quanto eu, mas, sem eles... Ok, sempre tive problemas para expressar meus sentimentos! Mas, eu confesso que eles me aproximavam da felicidade. É, era nisso em que eu pensava antes deste relógio parar.


Publicado no site Jornal Jovem
Categoria Crônica: seção livre
Novembro de 2010 - Nº 19

30/06/2010

O indivíduo frente a ética nacional*


Ouve-se muito acerca da defesa de uma tal ética a ser seguida. As instituições de Ensino expõem este conceito como se fosse matéria curricular e logo todos aprendem a técnica de como ser ético. Papagaios repetiriam “Eu sou ético”, porém jamais compreenderiam o significado disso. Mas eles não são racionais como os seres humanos.
É pertinente, ainda, discutir acerca das diferenças de este assunto ser um tanto paradoxal, pois é eticamente incorreto discriminar. Alguns adaptariam a palavra ‘ética’ para ‘etnia’ e ainda argumentariam, provariam por A+B que etnocentrismo nada tem a ver com a ética. Entende-se, portanto, que esses dois conceitos são apolares. Então, o que seria ética? Alguns associariam esta palavra a respeito, mas as vozes ainda soam inseguras.
Talvez seja oportuno afirmar que os indivíduos utilizam o discurso da ética por conveniência. Não somos éticos, estamos éticos. Ah, se a filantropia ainda vivesse! Só contamos com a reciprocidade. Devem, todos, ser éticos na televisão, no congresso, na escola, em casa. A ética está ligada a moral que a noite acalenta nas esquinas. As luzes apagadas facilitam os furtos, em todos os sentidos. Quando surge o sol, todos voltam a seguir e defender a ética. Só os cidadãos natos. Sempre trabalhando em equipe. Se descobertos: “Foi ele!”
Ser ético é um exercício do qual todos, comumente, deveriam fazer parte. Mas este ainda não é o mais árduo desafio. A ética deve ser absorvida pelo homem para que ele seja absolvido da corrupção. Isso não se aprende didaticamente. Para SER algo, é preciso aprender. Viver para não se aprisionar a constância. É preciso fugir das grades que nós construímos.
Deveras, o egoísmo sobrepõe-se a ética. Queremos prender os bandidos e depois nos escondemos. Inteligência é combater. Sapiência é prevenir. Mas a ética ainda dorme à noite. 




* Ao meu amigo-irmão, Rodrigo Camargo.



13/04/2010

Os outros

Como os outros são esnobes!
E ser esnobe é ser bom.
Bondade não é bonança.
Quem se importa
Se, BOM, todos querem ser?
Criticar as vértebras alheias
Não condiz ao natural
Já é tarde!
Rejeite seus princípios ínfimos
Não é o único a enlanguescer.
Para, no fim, encontrar nos outros
A verdade sobre você.

12/03/2010

Para não ser repetitiva

Poderia escrever algo sobre violência, meio ambiente ou sobre qualquer outro tema os quais julgo como sendo controversos. No mais, para não ser repetitiva, não é acerca dos mesmos que discorro. Devo contar-lhes o que não sabem sobre ela. Uma amiga minha. Sem ela, não poderia afirmar que vivo.
Fascina-me o simples fato de ser ela quem controla todos. O fato de ela ter o poder de esclarecer todas as minhas dúvidas. Somente ela conta todos os segredos. Ela é a razão, a paz (talvez), um sopro. E é por ela que eu vivo; existo. Ela me assombra quando chega repentinamente. Confesso que às vezes temo quando anseio fugir com ela.
Muitos falam dela com certo rancor e tentam permanecer longe dela quando ela se aproxima com destreza – Bobagem! –, porque ela é imprevisível. Dizem que o tempo é sabedor de tudo, o senhor do princípio e fim. Mas ela faz dele um vassalo. Não entendo por que as pessoas vivem evitando a visita dela. Ela é sutil, sabe? É paciente, súbita.
Gostaria de apresentar-lhes a ela. Imagino que, de alguma forma, tiveram contato com ela. Mas não a conhecem como eu. Eu a “vivi” sem precisar conjugar o verbo antônimo a este. Desprezam-na sem conhecê-la. Por quê? Para viverem melhor? Como podem querer viver sem uma parte de suas vidas? Ela é a parte que integra nossos corpos mutilados parcialmente. Não se pode encarar o que se teme. Tem de experimentá-la para conhecê-la, portanto. Ofereço minhas sinceras condolências.

18/02/2010

Déjà Vu


Às vezes sinto-me ansiosa acerca de minhas indecisões as quais parecem ser tão sublimes a ponto de raptarem a minha própria vida. Mas talvez seja comum para quem se julga um ser humano (como eu). Medo. Talvez seja isso. Medo até da felicidade e isso nada tem a ver com a loucura, pois ser louco é estar mais próximo da verdade, da própria felicidade. Não sou louca. Tento ser.
Quero que os outros me olhem com aquele olharzinho de desprezo. Quero ficar só. Enlouquecer. Quero ver as pessoas com sorrisos hipócritas estampados em seus rostos. Imagino que eu só queira respirar. E ser feliz. SER feliz.
Mas eu não suporto a solidão. As verdades ainda me intrigam. Eu sorrio com os outros e não há tempo suficiente para respirar. Não aceito, mas ESTAR feliz me conforta. Aqueles que sorriem comigo são responsáveis por isso. Também são responsáveis por eu não estar.
Sinto que o meu maior desejo é deixar de viver em função de pessoas que eu mesma selecionei, mas percebo que querer viver sem elas é hebetismo. Não as quero, preciso delas. Lembro-me delas em meus sonhos. Sonhos mesmo.
Talvez eu deva, mas não posso me afastar dessas pessoas as quais, eu sei, vou reencontrar no próximo século. A loucura acalenta esta enfermidade avassaladora, porque ser louco é despedir-se da vida que se traduz em cada ser, naturalmente temperamental, que, aos poucos, te enlouquece. Que te permite experimentar todos os sentimentos. Ser louco a ponto de esquecer o que sonhou. Gostaria de experimentar o esquecimento, mas, já que não se pode esquecer o que não se lembra, talvez o bom da vida seja morrer e viver de novo.

17/01/2010

Ainda aqui.

Por vezes, para os outros, posso tornar-me um paradigma. Não sou. Quando eu erro ou afirmo não saber algo, passo a ser, p'ra eles, o que eu supostamente sou p'ra mim. Não exijo de mim. Sou apenas o resultado do que faço ou sinto. Eu sei dizer 'Adeus' e 'Olá' 'pros outros. Tá, outros?