26/11/2010

[Con] Corrente [za]

E o que os meus olhos têm visto é incapaz de vislumbrar-me. Nem sei que horas são. Se já é tarde. Pouco importam os olhos que me viram ou falsearam ver-me. Todos permitem a minha partida sem êxito algum. Esse meu corpo, pintado de tantas cores, escureceu. Tolice! Pura tolice do meu antônimo em insistir ficar. Como é desagradável! Deixa, retiro-me! Incorporo no humor homoafetivo dos homens. Homens! Corpos mutilados, com almas em coma. E sonham comigo.
Disse, certa vez, uma frase roubada d’algum livro que habitei:
— Felicidade é a capacidade de ser. Ser é saber. Saber ser feliz!
Envaideço-me por morar junto aos pobres. Ricos. Corações abertos. Nada a perder. Nada mesmo! Pobres são os ricos que colecionam papéis com ilustrações engraçadas. Acreditam que eu suporto esse teatrinho promíscuo? Apenas assisto ao show. Depois volto para os meus escritores analfabetos. Longa história!
Esse coração plural, que pulsa no conceito criado pelos que me viram, está extremamente colérico. Estou enferma. Herdei a preguiça dos que convivi. Antes, eram meus inquilinos. Eu os protegia do meu antônimo inquieto, mas ela infiltrava-se na fraqueza d’um copo vazio, d’um corpo vazio. Cansei e adormeci por algum tempo, o bastante para ela seduzí-los com desilusões de olhos úmidos. Sou uma lembrança, um aniversário, um abraço, um beijo. Sou um toque! Mais carnal, hoje, do que espiritual. Uma fotografia. O medo, desejo, pecado. Salvação!
Um país pouco atraente acenando para mim. Mal sabe que cansei desse traje uniforme que os deixa de rostos opacos. Iguais. Não querem saber, porque já sabem. Não perguntam, porque já têm as respostas. Não sabem. Sabem nada de mim! Aqueles papeizinhos ilustrados corromperam a minha leitura e os livros se fecharam. Compraram, enriqueceram, empobreceram, desiludiram-se, furtaram, assassinaram. Aplaudiram meu antônimo! Abandonaram-me e minha irmã gêmea desigual sorriu. Sou muito menos do que eu era. O que eu sei não basta. Não sei quem eu sou. Ensina-me, tristeza!

16/11/2010

Ninguém te ama.


Teu coração é descrente
Ausente
Frio!
Amas fulano
Ciclano
              Fugiu.
Teu medo invisível
É arco-íris daltônico
És o antônimo do querer
E queres
                 Viver.
Teu amores falidos
Amigos distintos
              Distantes
Dispostos na estante.
Ninguém te ama
                     Amas ninguém.
Alguém ainda vive
                         Insiste
                         Sofreu.
Desfibrilador
                        Dirá:
"Ninguém te ama...
                                   Como eu."