17/06/2011

O último grito.

Estou tão sã aqui dentro, no meu sono. No meu luto. A minha vulnerabilidade ocular pichou as minhas verdades; sancionou os meus desejos e a minha culpa. A minha biologia confundiu a minha essência. Desmataram a minha selva; civilizaram-me. A minha respiração epidérmica falhou. Castraram o meu gozo espiritual proveniente das minhas fantasias realísticas que me mantinham siamesa ao outro.
Aprendi a cultuar o desespero; chegar ao ápice. Pedir apesar da dúvida; dar apesar do ressarcimento. Tive de me preencher com as águas que refletiam a minha imagem virtual. Fui sonhada por outrem. Invejaram a minha desgraça. O ódio demasiado amava a minha pele. E o amor alheio estampava a minha estante a despeito da necessidade.
O meu rosto é a representação da histeria. A minha armadura está incólume curando a minha bagunça invisível. Quero pedir socorro; gritar. Não desejo ressurreição, mas ter uma alma dentro do meu jazigo. O outro é o meu vício e faz com que eu pereça nessa subordinação. É o suicídio fetichizado, porque eu amo no outro o que ele tem de mim. Minhas emoções são aidéticas, porque fui traída pela falsa cura da dialética sentimental.
Não sei ser palavra avulsa. Sou um substantivo composto cujos hifens foram roubados; arrancados com dolo. O meu ódio protege o amor da minha inveja e da tua periodicidade. Ter é pretérito imperfeito, amor. Abster-me-ei das tuas vírgulas evanescentes; pontuar-me-ei do meu jeito. A inanição humana é canibal; vermelha. A paixão amorosa fora circuncidada e a vontade fora viciada. Minha voz não é despedida, mas salvação. Confessei, com a minha cegueira, a verdade que os meus lábios negavam. Não mais bastava plateia. O silêncio ensurdecia.
A minha anarquia desbocada humilha a mentira verdadeira dos outros. Os meus pensamentos assassinaram as minhas vítimas amadas. Fui traída por minha farsa quando abracei a solidão da coisa; do verbo. Do amor.