28/04/2009

O cego

O cego não pode ver
Ler o Diário não o deixaria contente
Se, a realidade, ele desconhecer
Uma vida benevolente

Você só acredita vendo
O pior cego é o que não quer ver
Até então condescendendo
Para a si mesmo convencer

Entre enxergar e ver uma semelhança
Sim, o cego pode ver
Dos olhos azulados, a luz da perseverança
A corrupção desguarnecer

A verdade está exposta
As vendas vão surgindo
Aos cegos, sua visão de volta
A do espião exaurindo

Um ensaio sobre a cegueira
Alguns não puderam voltar
Seguindo a lei brasileira
Olhos resolutos tranquilizar

25/04/2009

O amor através do espelho

Não podemos vê-lo. Abstrato. Presente. Não ausente, às vezes, mas escondido. Algo que nada tem a ver com o ser, mas com o estar. O que não é para sempre, mas está para sempre conosco. Os sentimentos nos compõem. Nada seríamos sem eles. Não seriamos impulsivos. A linguagem da alma que é transcrita para exteriorizar, mostrar àquele ou àquela. Morremos,com ou sem aspas,por amor.
Ele, por outro lado, provoca metamorfose. Cadê o meu eu? Está ali; aqui. Perdeu-se. Quando viaja, deixa a sensação de confusão. Não falar sobre ele, mas com ele. Ninguém sabe o que é. Não, você não sabe, apenas sente sua presença. Há vários tipos de amor? Amor de pai, amor de mãe; irmãos; marido e mulher? Um modo apenas, amar e só. Criamos as condições. Queremos as pessoas como queremos os objetos expostos em vitrines. Não as deixamos ir, pois as julgamos nossas. Não são. Choramos ao imaginarmos que o amor acabou. O amor não é como perfume; são, assim, as pessoas. Lamenta? Eu não. Somos desconhecidos, ainda que nos conheçamos há anos.
Há um fim para que haja um novo início. Se quiser dizer algo, diga. Espere se quiser perder. Perder e não perder; fingir que perdeu ou que abandonou. Ainda está lá, aquela pessoa, no subconsciente. Não, não enforcamos as pessoas com as cordas da vida. Variamos porque enjoamos. Hoje amizade; amanhã ódio. Olhando uns para os outros, nos veríamos se não fôssemos como um retrovisor de um carro que, às vezes, não capta determinada imagem e ocorre acidente. Felizmente, acidente, para alguns; Maldito, para outros.
Não procurar semelhança no outro. Procurar e encontrar os acertos impossíveis para nós. O mais diferente possível. Completar as lacunas e não ser incompetente ao pensar que rock só combina com rock. Ver no outro sua imagem invertida. Não tentar prever uma ação correspondente à sua. Filantropia, se preferir, o que vemos através do espelho.

Justificando a justiça

Punir para perdoar um crime é a melhor medida pensada, até então, pelos homens, os quais imaginam que promover a “cura” é bem melhor que criar uma profilaxia. Perdem o controle. Erram. Erramos. Fingimos espírito de justiça e somos injustos. Educamos mal e queremos bons resultados. O dinheiro liberta e a humildade condena.
Não vemos as pessoas, pois quem vê é aquele que tem visão. Olhamos, pois temos olhos. Só. Desconfiamos do fulano: “Esse tem ‘pinta’ de bandido!”. Pode ser verdade. Alguns manipulam a justiça para provocar descrença. Confundem as pessoas ao mostrarem que estão cuidando “bem” do assassino de um ente querido por elas. Que era querido? Que é querido, pois ainda dói a perda. Para sempre, talvez. O ódio: “Eles têm que sofrer como eu sofri!”. As máscaras mais nobres são aquelas que podem ser permanentes – a “compaixão” para com as famílias -, tudo para justificar a maldade.
O objetivo do sistema de internação de infratores está sendo ofuscado pela ausência de profissionais com competência e desprovidos de controle psíquico para trabalhos desta natureza. Ser preso para quê? Para, após dois anos, voltar a assassinar? Sim, ensinam errado. Nem ensinam. Os presos apenas assistem sua esperança se esvaindo. Nada a perder. Ninguém por quem viver; abandono. O fim da linha exposto em slides de sua vida diária. Para eles, apenas, vingança, sangue, morte e triunfo. Nada mais. De volta à cadeia. O velho recomeço.
Muitos são a favor disso tudo; eu contra. Revolução? Não, prudência, acredito. As pessoas estão confusas e nem sabem o que é justiça, pois estão presas e sufocadas. Vida limitada. Copiando pensamentos. Nem sabem onde está o princípio; o fim tampouco. Começar a partir do depois, inteligência; pela base, sapiência.

21/04/2009

Se...

Se eu pudesse mudar o mundo
Se eu soubesse o que devo ser
Se eu escutasse a voz do mudo
Saberia o que fazer

Se amanhã fosse o final
Enfim a mansuetude
Se, pra viver, um manual
Saudade de minha juventude

Se a paz é a máscara dos beligerantes
Se a vida esvai-se deveras
Se o estrênuo justiceiro é instigante
Eu destruo e tu cooperas

Por fim a estática nos rodeia
Pensar não é compreender:
“Se, se, se”, o nobre falseia
O fim SE o homem aquiescer.

17/04/2009

"Não fui eu não eu!"

Talvez alguém seja culpado por tudo o que tem ocorrido em termo de segurança. Quero dizer, o que chamam de segurança. Nem sabemos mais que significado guarda esta palavra. Temos medo de tudo. Medo de morrer, mesmo sem conhecermos a morte. Quem é capaz de ouvir Danni Carlos no seu mp3 player durante o retorno da Universidade para casa? Alguém que mantém um fio de esperança ou que acredita que pode mudar a mentalidade das pessoas – Tarefa difícil, mas boa sorte! -, que não sabe a solução ou sabe. Segredo.
Um bem material ou a vida?: “Deixa-me pensar... Acho que posso deixar o celular para depois.”. Ódio dos delinqüentes? Ocorrência? O celular de volta? Imagine você num caixão e, ao invés de estar segurando um terço, seus familiares poderiam pôr em suas mãos o seu celular para que você possa telefonar e dizer como foi a “viagem”. Não, não defendo os infratores, entendo, apenas, o porquê. A culpa não é sua; deles tampouco. Infelizmente precisamos disso. Somos dualistas. Precisamos ser capazes de diferir o bem do mal, o pobre do rico, o cego daquele que pode ver. Mas isso não é uma questão de escolha, por isso não há culpados. A desordem é o problema. O medo, característica nossa, nos poda. Desconhecido é sinônimo de duvidoso. Preconceito? Sim, pode ser. Nunca sabemos quando estamos sendo injustos, pois nada sabemos acerca dos princípios alheios. Enquanto o caráter de alguns é manchado pela tatuagem feita na véspera de seu aniversário de 18 anos, há 18 anos a tatuagem do artista já não tem o mesmo aspecto por conta da pele envelhecida: “Bandido. DEVE ser bandido!”
Ah se os banqueiros fossem pobres e os marginalizados tivessem uma chance! Entenderíamos tudo. Vemos no espelho o que queremos ou o que precisamos ver, conveniência. Não percebemos os outros, porque preferimos cuidar da causa mais urgente: a nossa. Sequer sabemos quem somos ou o porquê de acontecer algo ruim, porque nos confundimos na relatividade dos nossos julgamentos. Não somos culpados, somos irracionais. Estamos enfermos.

06/04/2009

Cola, transcrição social

Muitos consideram a cola uma forma de corromper alguém. Não. Alguns colam, porque não são obrigados a aprender ou compreender o mundo. Diversão, talvez. Fechamos os olhos para a realidade e apenas decoramos conceitos. Repetimos. Colamos.
Nas salas de aula, os alunos distribuem-se em filas, ambos olhando para uma única direção e ouvindo o que seus professores têm a dizer acerca de boas questões de vestibulares passados, haja vista que não podem prever as questões do próximo. O vestibular é cola, imagino, pois quem consegue a vaga é aquele que decora mais informações durante o ano, o melhor em matemática que, por ser ciência exata, facilita o trabalho do candidato que nem nome tem, Sr. 17891. Nem sabemos escrever mais, não buscamos mais, porque é só copiar e colar (do “Google” para o “Word”). Colar não é espiar a prova do colega. Colar é repetir o que todos pensam, marcar a mesma alternativa e haver apenas uma resposta para um questionamento.
Talvez eu colasse um dia. Nunca colei, confesso. Indiretamente, talvez. Se houvesse autenticidade, as belas modelos afundariam juntamente com a tal moda, porque as pessoas teriam seu próprio “look”. É constrangedor não vestir o mesmo estilo adotado pelos outros. Pior que isto, é não marcar a alternativa “c” e perder para os “mais” inteligentes.
Colamos, porque temos medo, somos pressionados, precisamos acertar e só. Mas errar nos faz crescer e ser capazes de aprender e ensinar num mutualismo sem fim.

03/04/2009

Amy de quê?

Amy Winehouse é vista como uma mulher louca, viciada em entorpecentes ou como um lixo luxo,mas, para quem não sabe, ela é cantora. Alguns nem conhecem a tal Amy que é tão criticada nos discursos de “certinhos”, quando entre amigos, para mostrarem o quanto estão interados acerca dos “absurdos mundiais”. O conceito de certo ou errado é relativo, depende de um referencial.
Como justificar as atitudes de uma cantora que é dona de uma voz e interpretações que a levaram a seis indicações ao Grammy Awards, das quais venceu cinco? Talvez ela tenha percebido a própria vida e a importância desta. A verdade pode tê-la feito chorar. Imagino que ela gostaria de mudar, mas seus anseios são inibidos pelos outros (a sociedade). Não há pessoas com quem possa confidenciar. É impossível. Acho que ela prefere um diário ou cantar. Drogas, álcool, risos e vexames que escondem algo que nem sequer somos capazes de compreender, porque queremos julgar e só: “Louca!”
Pôr amarras nas asas de um artista não é certo. Inibir o processo de “evolução moral” é, às vezes, involuntário para quem assiste seus princípios misturarem aos dos outros heterogeneamente, porque ninguém entende. O poeta vai calar e, um dia, o compositor desiste e o cantor, o de verdade, vai guardar o segredo só para si.
Amy é uma artista e não chora; emociona-se e emociona aqueles que ouvem essencialmente o que ela tem a dizer. Cantar é como confessar. É arte. Amy evade nas entrelinhas de suas canções. Liberdade, talvez.