17/12/2010

O coveiro e a esfinge.

          A pessoa da qual tu depreendes a capacidade intrínseca de refletir nas tuas formas corporais espelhadas é propriamente aquela da qual a tua alma se serve. Ela entendeu isso, ainda que tenha sido da forma mais inócua possível: uma adição aritmética. Fora uma gestação de 18 anos — Extrauterina —, cerebral. Uma negociação subtracional e um terno aceno ao coveiro.
          A interação entre duas almas é, no entanto, como uma prisão. Ela nunca hesitaria em vê-lo, ainda que ele representasse o polo negativo; um cisco no olho. E as memórias muito bem dispostas no HD cerebral que ela insiste em proteger. Os ouvidos atentos da jurisprudente sempre souberam a sentença, dentro da lei da vontade, para aquele caso concreto.
          Ela ainda engatinha. Mas já ensaia os passos para quando aquelas duas mãos masculinas a soltarem. E aplaudirem-na mediante o jardim que ela se encarregou de manter.
          As flores murcharam e o coveiro construiu o próprio jazigo, onde habitam as migalhas de amor, que ela apenas tem devolvido. Ela não é mais aquela hipérbole de antes, pois a física a convenceu dos benefícios do par Ação-Reação.
          Ela é exatamente o resultado das inconfidências dele. Essa figura enigmática que ela tem otimizado em seu interior é tão somente sua válvula de escape. Escapar do melhor que já lhe aconteceu; daquele que construíra a catedral do matrimônio, demolida posteriormente.
          Ele que conjugou todos os verbos, fora destruído por três letrinhas que ela disse ao som da música da harpa encantada. Três letrinhas tão certas quanto o rosto despido daquele que sempre amou.
          Ninguém.

3 comentários:

  1. Amiga,
    Lindo o texto,
    Maravilhosamente bem escrito!

    =DD

    Mera coincidência?

    acho que nãoo...

    Te amo e tu sabes!
    =***

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  2. Catedrática catarse pulsional feminina.

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  3. O amor não é peculiar a matéria. Logo, a simples ação de "amar" não depende da matéria, não depende do homem. A imagem maternal disse outrora. Amares quem te faz bem. Neste caso a reciprocidade não deve ser vista como uma variante despresivel. Amar é, antes de tudo. Saber o que é bom pra si mesmo.

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