25/12/2010

Bate [n]o sino.

          Dezembro maquia problemas familiares. Ninguém acredita mais na magicidade do Natal. A essência dessa data está sendo esquecida, esmagada pelo comércio. O Natal tem sido um eco de estética; um adeus frívolo à fé.
          Esperança é ainda uma fila de espera, porque ninguém acredita mais na ação do presente. Aliás, a ação é sempre uma perspectiva para o futuro. As pessoas temem mais do que respeitam. Rezam quase que por osmose. Não respeitam o Natal. Nem se trata de respeitar esse nome, porque isso não é um slogan, trata-se de paciência para compreender o que isso denota.
          Esse ócio humano é o palco da atuação capitalista, porque o capitalismo depende de futilidade e a futilidade, por conseguinte, depende do vazio. Vazio transbordado de qualidades bipolares. As árvores robustas e presentes já bastam. O materialismo fora fortalecido e incentivado pelo sistema. Sistema! E ninguém diz não.
          O Natal tem sido uma barganha. O próprio abraço e as palavras têm sido barganhas. Tudo dentro de um grande contrato. Compra-se sentimentos, lágrimas. Verdade. Não se chora por saudade. Pessoas choram pelo desespero de serem impedidas de conjugarem o verbo ter. Tomar posse de tudo. Todos querem protagonizar numa peça já escrita.
          Dezembro é um carnaval antecipado. Presentes, discursos e o ensaio sobre o amor. Natal é um beijo frio à neve. É o toque realista da moeda. É a união mais desunida. É família.
          É a ceia.

Publicado no site Jornal Jovem.
Repórter Jovem Comenta - Especial - Dezembro 2010, Nº 20.

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