31/12/2010

#tweetumdesejopara2011

Dois Mil e Dez foi um ano justo. Digo, tudo o que ele deu a quem quer que seja jamais poderia ser visto como canalhice, porque neste ano o Brasil não foi o único a mostrar a cara. Ah, Brasil! Nosso circo ainda está armado. Basta comer do pão. Nossos princípios já foram modelados no joguinho de “Show do Milhão” mesmo.
Eu vi, 2010, as pessoas te agredirem. Eu vi pessoas. Pessoas. Relógios quebrados e duas mãos vazias. Não vi pessoas. Vi imagens embaçadas, distantes; cabelos, costas, nádegas e calcanhares. Nunca rostos! Sequer houve a tentativa de cara-a-cara da parte deles. Nunca puderam abraçar, porque só havia a carne. E todos os quase cinqüenta sempre couberam na cabeceira da minha cama e meu abraço os abraçava indistintamente. E eu acordava com as mãos trocadas por sobre os ombros.
Desliguei a tevê, enquanto gladiadores lutavam no Coliseu Midiático para venderem estereótipos. Eu vi a Revolução Industrial Amorosa. Vi amizades serem vendidas em bilheterias. Senti saudade de ninguém, porque eu despi os que eu amo. Descasquei-os. Suguei os gomos. Expulsei as sombras que acompanhavam suas cascas. Emudeci, ensurdeci. Mal enxergo. Tenho 2010 motivos para rir do pessimismo.
Dois Mil e Onze, eu conheço os teus clichês. Retuitar-te-ia se pudesses dar-me verdade. Verdade dos outros ou sobre os outros. Cartas que olhem nos olhos, abraços lidos. Virtualiza o contato físico e materializa o virtual. Quero as caras à mostra, sem racionalidade ocular. Chega de esperança! Eu só quero fé.

25/12/2010

Bate [n]o sino.

          Dezembro maquia problemas familiares. Ninguém acredita mais na magicidade do Natal. A essência dessa data está sendo esquecida, esmagada pelo comércio. O Natal tem sido um eco de estética; um adeus frívolo à fé.
          Esperança é ainda uma fila de espera, porque ninguém acredita mais na ação do presente. Aliás, a ação é sempre uma perspectiva para o futuro. As pessoas temem mais do que respeitam. Rezam quase que por osmose. Não respeitam o Natal. Nem se trata de respeitar esse nome, porque isso não é um slogan, trata-se de paciência para compreender o que isso denota.
          Esse ócio humano é o palco da atuação capitalista, porque o capitalismo depende de futilidade e a futilidade, por conseguinte, depende do vazio. Vazio transbordado de qualidades bipolares. As árvores robustas e presentes já bastam. O materialismo fora fortalecido e incentivado pelo sistema. Sistema! E ninguém diz não.
          O Natal tem sido uma barganha. O próprio abraço e as palavras têm sido barganhas. Tudo dentro de um grande contrato. Compra-se sentimentos, lágrimas. Verdade. Não se chora por saudade. Pessoas choram pelo desespero de serem impedidas de conjugarem o verbo ter. Tomar posse de tudo. Todos querem protagonizar numa peça já escrita.
          Dezembro é um carnaval antecipado. Presentes, discursos e o ensaio sobre o amor. Natal é um beijo frio à neve. É o toque realista da moeda. É a união mais desunida. É família.
          É a ceia.

Publicado no site Jornal Jovem.
Repórter Jovem Comenta - Especial - Dezembro 2010, Nº 20.

20/12/2010

Noir εt Rouge.

          Sabe-se apenas que houve algum tipo de mudança. Nem ela sabia. Sua mocidade ligada à hipocondria de prender-se ao destino, mesmo incerta sobre a existência de algo tão contraditório mediante seus princípios tão bem enraizados e detalhistas quanto um projeto arquitetônico. E seus sonhos tão palpáveis, carregados de um realismo cruel — quando se tratava dela —, chegavam a raptá-la da sociedade, tão medíocre, que sequer amparava o egoísmo.
          A sagacidade daquele moleque era tão atraente quanto aquela coisa muito dela de querer investigar os outros; saber se ela se encaixaria, fosse às formas corporais ou nas almas que ela, posteriormente, roubaria para si. Eles eram como uma medalha; assim: dois aliados subordinados; fiéis. O amor seria como uma oração inóspita se eles não tivessem tido cautela. Aqueles dois corações nus seduziam-se reciprocamente. Ele mergulhado em sua sobriedade e ela apenas cantarolava seus ditos românticos que embalavam as mentes periféricas daquele bando de tolos que apenas falseavam ouvi-la.
          A carência daquele chistoso fora satisfeita por aquela cuja anatomia a transformava num inseto vulnerável, mas aquela boca inquieta feminina tapeava os rostos daqueles analfabetos funcionais por opção. Ele sabia o que estava por trás do cinismo cuspido por ela, que todos aplaudiam. Ela nunca pôde controlar a língua. Espevitada, por herança genética. Ele se embalava no balancinho da varanda e esculpia aquele corpo imaginário à mão. Aquele corpo que cresceu de dentro para fora nunca amou ou precisou desesperadamente do contato à noite fria. A maquiagem que a mantém angelical é o pó compacto, compactado pelos versos da oratória que remetiam as memórias fragmentadas de seu pupilo gemelar.
          Eles sempre souberam como lidar com exageros. Sabiam dosar a quantidade de sentimentos que muitas vezes não ultrapassavam a ponta da língua. A liberdade denotava a intimidade espiritual daqueles dois corpos. O abraço preenchia espaços vazios, ainda que persistisse o vazio microscópico. Eles nasceram grudados, em diferentes ventres. São muito pouco sem essa cola poderosa que prende seus pulsos.
          Pulsa.
          Eles não estão ligados por carinho. Isso é só a amostra. Estão ligados pelo medo. Medo de expulsarem verbalmente a vida breve. Medo de romperem o silêncio.
          De morrerem sós. E mais ainda de viverem juntos.


Publicado no site República dos autores.

17/12/2010

O coveiro e a esfinge.

          A pessoa da qual tu depreendes a capacidade intrínseca de refletir nas tuas formas corporais espelhadas é propriamente aquela da qual a tua alma se serve. Ela entendeu isso, ainda que tenha sido da forma mais inócua possível: uma adição aritmética. Fora uma gestação de 18 anos — Extrauterina —, cerebral. Uma negociação subtracional e um terno aceno ao coveiro.
          A interação entre duas almas é, no entanto, como uma prisão. Ela nunca hesitaria em vê-lo, ainda que ele representasse o polo negativo; um cisco no olho. E as memórias muito bem dispostas no HD cerebral que ela insiste em proteger. Os ouvidos atentos da jurisprudente sempre souberam a sentença, dentro da lei da vontade, para aquele caso concreto.
          Ela ainda engatinha. Mas já ensaia os passos para quando aquelas duas mãos masculinas a soltarem. E aplaudirem-na mediante o jardim que ela se encarregou de manter.
          As flores murcharam e o coveiro construiu o próprio jazigo, onde habitam as migalhas de amor, que ela apenas tem devolvido. Ela não é mais aquela hipérbole de antes, pois a física a convenceu dos benefícios do par Ação-Reação.
          Ela é exatamente o resultado das inconfidências dele. Essa figura enigmática que ela tem otimizado em seu interior é tão somente sua válvula de escape. Escapar do melhor que já lhe aconteceu; daquele que construíra a catedral do matrimônio, demolida posteriormente.
          Ele que conjugou todos os verbos, fora destruído por três letrinhas que ela disse ao som da música da harpa encantada. Três letrinhas tão certas quanto o rosto despido daquele que sempre amou.
          Ninguém.

12/12/2010

2012 também é mentira.

Estamos a dois anos do fim dos tempos. Até em filmes descrevem o que acarretará o fim. E as igrejas lotam. É como uma barganha com Deus, há de se dizer. A fé é uma garantia; um sentimento eficaz, pois ninguém conseguiu ver o rosto de Deus, suponho. É claro que já tentaram coisificar a figura do Deus mais famoso de toda a História, mas já basta, no nosso caso, saber que Ele é brasileiro. Basta que dê certo, além dos créditos ao misticismo.
Mentira! Ora, como um ser humano nato, tu nunca acreditarias em algo tão pouco palpável. Mas há sempre uma possibilidade de contrato. Lembras das promessinhas canalhas que tu fizeste só porque tu querias encobrir uma mentirinha bombástica? Para quem tu apelaste? Vais dizer que chamaste o Chapolin Colorado? Deus: quatro letras transformadas numa simples interjeição!
O problema não está na cornucópia interrogativa. Não! Está na sponcio dos que respondem. Verdades, mentiras. Tudo permeia uma aritmética nula.
Não nos desfazemos de nossa pretensão de querermos transcender. Essa coisa muito nossa de deduzir com base em fortúnio. Somos superficiais. A relatividade é uma cólera humana. Ora aplausos, ora vaias. Antagonismos que sustentam a nossa integridade; desrespeitam qualquer tentativa de antecipação. Aí tu esperas. Desesperas-te. Vemo-nos em 2012. Ou não.

11/12/2010

Apesar das vírgulas.

Ninguém mais acredita no poder da gramática; na sutileza bem escrita que sublimaria um ‘NÃO’, por exemplo. Ainda assim querem verbalizar sentimentos. Atiram tudo dentro de um envelope e enviam por sedex ou copiam um texto super mal escrito de um site qualquer e pronto: eis o seu depoimento de ‘Feliz Aniversário’.
Transformaram sentimentos em clichê. Assim: sem dó. Conjugá-los tornou-se algo tão espontâneo quanto dizer ‘Bom dia’, de dia ou ‘Boa noite’, à noite. Perderam o sabor do mistério. Eles são quase cuspidos subitamente. Habitam a vontade. Só. Digo, sentimentos existem porque tu os alardeias desesperadamente. Sempre é mais simples escrevê-los do que dizê-los. Pior: sentí-los deixou de ser prioridade, há tempos.
A linguagem é uma salada. Um mal entendido. Misturaram o que deveria ser indizível com o óbvio. Pluralizaram algo concreto, ainda que o concreto independesse de visibilidade. Complexizaram a simplicidade do verbo sentir.
As frases justificam o que nem o teu rosto consegue descrever. Essa coisa banalizada é só uma armadura. Os teus sentimentos são datados; um discurso auxiliado pela tua bela entonação. São um texto dependente de sintaxe.

09/12/2010

o d э м

Liberdade é utopia; amor é um sentimento desconhecido; pessoas são dicotômicas. O culpado habita a tua consciência, impregnada por doutrinas e orgulho; pela moral que controverte o teu espírito. É ele o guardião das escolhas influenciadas; aquele que vela o teu sono e o teu show. O substituto da ética. A verdade mais obscura em noites ensolaradas. É o apaziguador entre hipocrisia e moral. É um sentimento epífito do caráter do hospedeiro.
Ele é o sentimento mais independente de todos. Faz da razão seu brinquedinho. Ele é pulso; o teu combustível ou a tua desgraça. É propriamente o criador d’outro sentimento que liga as pessoas, mas que sozinho não é capaz de mantê-las: o amor. Esse sentimento do qual eu falo é a ambição do verbo amar. Ele é o antídoto; o fator-chave das escolhas conflitantes que tu fazes.
Ele te desmoraliza e nem é meio aos outros. Ele é muito mais sagaz: destrói a tua imagem diante dos teus olhos. Ora, agora vais dizer que tu és o maior revolucionário da História? Coragem é uma piada, porque tu já tens um template de vida. Moral, a menina crescida que te desafia; que te acompanha desde tenra idade. Ela é o que determina o que é certo, o que é normal. Repetição. Um livro em branco. Aí é quando ele se manifesta traiçoeiramente como instrumento dessa modinha, pelo ônus de tu viveres [n] uma sociedade hipertensa.
Esse sentimento é criação divina. Intocável pelos homens. Ele regula o comportamento do estar humano. É a maçãzinha que Eva nenhuma consegue alcançar. Humanos estragariam tudo com essa mania de razão. Mal sabem que ela está se vingando por ter sido traída; mal interpretada. Regurgitaram-na. Abriram aquela caixinha e permitiram a liberdade dos males, a despeito de um: esperança.
Ele fora concebido por esta hermafrodita. Tornou-se o pequeno bipolar. Ele é o imã das sensações; antítese. A interseção entre corpo e alma. É o tempo para quem espera. É ameaça para os que perdoam. Ele mente honestamente. É o mundo evoluindo de forma regressa. É o retrovisor e a matemática. Tu internalizas os mandamentos imperativos dele e os refletes no teu rosto. Ele está escrito nas tuas expressões faciais e nas tuas memórias. Ele vive apesar da Moral; da Esperança; da Dúvida; do Orgulho. Porque é disso que ele é feito.

06/12/2010

Pupilas e pulsação.

Dentro das teorias sobre o amor há um pluralismo de idéias iniciais com um mesmo fim: felicidade. Não dá para ser feliz o tempo todo. Não se ama o tempo todo alguém, a não ser que ele te seja servido diariamente. Como regar flores, sabe? Amar alguém está muito além da matéria; da inspiração dos sentidos. Tu amas por um motivo tão íntimo que mal consegues transformar em palavras.
Palavras e sentimentos são inversamente proporcionais, porque sentimentos deveriam ser anônimos. Nem o exterior da caverna que venda os olhos é capaz de descrevê-lo. Tu não o sabes, mas queres transformá-lo em um corpo; num rosto. Objeto. Desposá-lo até exaurir a tua quota. Tu o vês e o sentes. Nessa ordem.
Amor não tem um conceito, embora pareça fácil descrevê-lo poeticamente. Ele não existe! Nem mesmo o verbo, até que haja antônimos eficazes. Ao contrário do que a maioria pensa, o amor não nasce entre dois seres. Não! Isso é boato! O amor atormenta a solidão. Ele grita por ter sido esquecido; desconhecido. Amor não é bom. Nem ruim. É como um tornado; um gigante invisível condensado pelo o que ele arrasta consigo. É desastre. É recomeço.
Ah, os olhos erram tanto! Olhos roubam de ti a espontaneidade; a liberdade. É como um grande espião do teu cérebro — o grande senhor das escolhas —, que também ouve, toca e beija quase que concomitantemente. O cérebro espalha a novidade por todo o teu corpo acompanhando a trajetória sanguínea. Deus, taquicardia que te faz lagrimar! É sublime! E, no silêncio, ele pulsa. O pequenino coadjuvante que protagoniza só nas cartas que tu escreves. Teu coração é só um súdito guiado pelos cochichos chicoteados pelos teus olhos. O belo, a estética. Um caráter descascável. O que a epiderme acalenta.
És mesmo capaz de amar até a última gota; além do toque; além do beijo; além das cartas? Saberias descrever o outro apesar do tempo e da distância? Amas o suficiente para deixar o outro ir, como num grande efeito borboleta? Teus olhos resolutos negam. Perderias os demais sentidos  fechando os teus olhos. O teu amor é uma escultura palpável; visível. Tu amas. Não vês, não tocas. Tu choras. Te enganas.


Publicado no site Café Colombo.
Publicado no site República dos autores.

04/12/2010

Orestéia acadêmica.

Eles apenas ambicionavam a aprovação no vestibular. Sequer pensaram nas conseqüências; no que ficaria no passado mais próximo do triunfo. Seria um tapa sem mão! Quase um Império; assim: um reinado. Ora, bobos são aqueles que nem se importam com esse status! Mais bobos são aqueles que vivem do ou para o status. Eles venceram!
Cá entre nós, faculdade é onde tu aprendes, há de se dizer, a contar a tua história como um conto contado através d’uma tela pintada. Ganhas amigos e notoriedade. Falas demais. Ouvem os que estiverem dispostos. Lá não é lugar para fazer os melhores amigos que tu já tiveste. Isso é tarefa do colégio; da tua infância. Do passado, lembras? Lá, na faculdade, tu tens do melhor: álcool, cigarros, risos entorpecentes, atores. Luxúria! Ah, não vamos generalizar! Tu podes encontrar inocência, silêncio e autenticidade. E anonimato. Escolher, eis o verbo-chave! Tu escolhes conjugar quaisquer outros verbos com uma ajudazinha da ilustre influência!
Lá tu aprendes também a arte do puxa-saquismo, um insulto implícito ao teu ego, digamos. Tu aprendes, sobretudo, que corrupção é uma fase. Bem intensa! Que mal há na cola, por exemplo? Nada não! Aliás, é só uma demonstração modesta da tua eventual ausência de porquês. Nada demais! É claro que tu tens motivo para isso: medo. Medo da reprovação, a grande protagonista das metamorfoses morais e a camaleoa das relações sociais.
Aí é chegada a hora de beber um gole de mediocridade! Sabe, dar à ironia um pouquinho de eloqüência. Dirigir carros sem combustível algum: homens. Essa pluralidade de personagens que tu passarás a dramatizar serão as tuas Erínias. Arrogâncias entrarão num embate taliônico e a verdade repousará em berço úmido. Aplausos já não satisfarão as tuas expectativas, porque uma sala é menor que um auditório. A grandeza das pessoas em seus respectivos lugares.
É uma herança; sucessão familiar. No começo é uma lei. Tu obedeces. Agradeces. És livre. E a faculdade é o Processo: as leis, os juízes e uma sentença.