20/12/2010

Noir εt Rouge.

          Sabe-se apenas que houve algum tipo de mudança. Nem ela sabia. Sua mocidade ligada à hipocondria de prender-se ao destino, mesmo incerta sobre a existência de algo tão contraditório mediante seus princípios tão bem enraizados e detalhistas quanto um projeto arquitetônico. E seus sonhos tão palpáveis, carregados de um realismo cruel — quando se tratava dela —, chegavam a raptá-la da sociedade, tão medíocre, que sequer amparava o egoísmo.
          A sagacidade daquele moleque era tão atraente quanto aquela coisa muito dela de querer investigar os outros; saber se ela se encaixaria, fosse às formas corporais ou nas almas que ela, posteriormente, roubaria para si. Eles eram como uma medalha; assim: dois aliados subordinados; fiéis. O amor seria como uma oração inóspita se eles não tivessem tido cautela. Aqueles dois corações nus seduziam-se reciprocamente. Ele mergulhado em sua sobriedade e ela apenas cantarolava seus ditos românticos que embalavam as mentes periféricas daquele bando de tolos que apenas falseavam ouvi-la.
          A carência daquele chistoso fora satisfeita por aquela cuja anatomia a transformava num inseto vulnerável, mas aquela boca inquieta feminina tapeava os rostos daqueles analfabetos funcionais por opção. Ele sabia o que estava por trás do cinismo cuspido por ela, que todos aplaudiam. Ela nunca pôde controlar a língua. Espevitada, por herança genética. Ele se embalava no balancinho da varanda e esculpia aquele corpo imaginário à mão. Aquele corpo que cresceu de dentro para fora nunca amou ou precisou desesperadamente do contato à noite fria. A maquiagem que a mantém angelical é o pó compacto, compactado pelos versos da oratória que remetiam as memórias fragmentadas de seu pupilo gemelar.
          Eles sempre souberam como lidar com exageros. Sabiam dosar a quantidade de sentimentos que muitas vezes não ultrapassavam a ponta da língua. A liberdade denotava a intimidade espiritual daqueles dois corpos. O abraço preenchia espaços vazios, ainda que persistisse o vazio microscópico. Eles nasceram grudados, em diferentes ventres. São muito pouco sem essa cola poderosa que prende seus pulsos.
          Pulsa.
          Eles não estão ligados por carinho. Isso é só a amostra. Estão ligados pelo medo. Medo de expulsarem verbalmente a vida breve. Medo de romperem o silêncio.
          De morrerem sós. E mais ainda de viverem juntos.


Publicado no site República dos autores.

2 comentários:

  1. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH to cansada de dizer a mesma coisa .. porque sempre vc me surpreende.. amei amei e amei .. SEMPRE

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  2. 90% eu conheço...os outros 10% foi pros outros casais não ficarem triste ctg!

    haushaushaus'

    ^^)

    Teus textos, minha Identidade ^^)

    te amo cara de Jambo.

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