04/12/2010

Orestéia acadêmica.

Eles apenas ambicionavam a aprovação no vestibular. Sequer pensaram nas conseqüências; no que ficaria no passado mais próximo do triunfo. Seria um tapa sem mão! Quase um Império; assim: um reinado. Ora, bobos são aqueles que nem se importam com esse status! Mais bobos são aqueles que vivem do ou para o status. Eles venceram!
Cá entre nós, faculdade é onde tu aprendes, há de se dizer, a contar a tua história como um conto contado através d’uma tela pintada. Ganhas amigos e notoriedade. Falas demais. Ouvem os que estiverem dispostos. Lá não é lugar para fazer os melhores amigos que tu já tiveste. Isso é tarefa do colégio; da tua infância. Do passado, lembras? Lá, na faculdade, tu tens do melhor: álcool, cigarros, risos entorpecentes, atores. Luxúria! Ah, não vamos generalizar! Tu podes encontrar inocência, silêncio e autenticidade. E anonimato. Escolher, eis o verbo-chave! Tu escolhes conjugar quaisquer outros verbos com uma ajudazinha da ilustre influência!
Lá tu aprendes também a arte do puxa-saquismo, um insulto implícito ao teu ego, digamos. Tu aprendes, sobretudo, que corrupção é uma fase. Bem intensa! Que mal há na cola, por exemplo? Nada não! Aliás, é só uma demonstração modesta da tua eventual ausência de porquês. Nada demais! É claro que tu tens motivo para isso: medo. Medo da reprovação, a grande protagonista das metamorfoses morais e a camaleoa das relações sociais.
Aí é chegada a hora de beber um gole de mediocridade! Sabe, dar à ironia um pouquinho de eloqüência. Dirigir carros sem combustível algum: homens. Essa pluralidade de personagens que tu passarás a dramatizar serão as tuas Erínias. Arrogâncias entrarão num embate taliônico e a verdade repousará em berço úmido. Aplausos já não satisfarão as tuas expectativas, porque uma sala é menor que um auditório. A grandeza das pessoas em seus respectivos lugares.
É uma herança; sucessão familiar. No começo é uma lei. Tu obedeces. Agradeces. És livre. E a faculdade é o Processo: as leis, os juízes e uma sentença.

26/11/2010

[Con] Corrente [za]

E o que os meus olhos têm visto é incapaz de vislumbrar-me. Nem sei que horas são. Se já é tarde. Pouco importam os olhos que me viram ou falsearam ver-me. Todos permitem a minha partida sem êxito algum. Esse meu corpo, pintado de tantas cores, escureceu. Tolice! Pura tolice do meu antônimo em insistir ficar. Como é desagradável! Deixa, retiro-me! Incorporo no humor homoafetivo dos homens. Homens! Corpos mutilados, com almas em coma. E sonham comigo.
Disse, certa vez, uma frase roubada d’algum livro que habitei:
— Felicidade é a capacidade de ser. Ser é saber. Saber ser feliz!
Envaideço-me por morar junto aos pobres. Ricos. Corações abertos. Nada a perder. Nada mesmo! Pobres são os ricos que colecionam papéis com ilustrações engraçadas. Acreditam que eu suporto esse teatrinho promíscuo? Apenas assisto ao show. Depois volto para os meus escritores analfabetos. Longa história!
Esse coração plural, que pulsa no conceito criado pelos que me viram, está extremamente colérico. Estou enferma. Herdei a preguiça dos que convivi. Antes, eram meus inquilinos. Eu os protegia do meu antônimo inquieto, mas ela infiltrava-se na fraqueza d’um copo vazio, d’um corpo vazio. Cansei e adormeci por algum tempo, o bastante para ela seduzí-los com desilusões de olhos úmidos. Sou uma lembrança, um aniversário, um abraço, um beijo. Sou um toque! Mais carnal, hoje, do que espiritual. Uma fotografia. O medo, desejo, pecado. Salvação!
Um país pouco atraente acenando para mim. Mal sabe que cansei desse traje uniforme que os deixa de rostos opacos. Iguais. Não querem saber, porque já sabem. Não perguntam, porque já têm as respostas. Não sabem. Sabem nada de mim! Aqueles papeizinhos ilustrados corromperam a minha leitura e os livros se fecharam. Compraram, enriqueceram, empobreceram, desiludiram-se, furtaram, assassinaram. Aplaudiram meu antônimo! Abandonaram-me e minha irmã gêmea desigual sorriu. Sou muito menos do que eu era. O que eu sei não basta. Não sei quem eu sou. Ensina-me, tristeza!

16/11/2010

Ninguém te ama.


Teu coração é descrente
Ausente
Frio!
Amas fulano
Ciclano
              Fugiu.
Teu medo invisível
É arco-íris daltônico
És o antônimo do querer
E queres
                 Viver.
Teu amores falidos
Amigos distintos
              Distantes
Dispostos na estante.
Ninguém te ama
                     Amas ninguém.
Alguém ainda vive
                         Insiste
                         Sofreu.
Desfibrilador
                        Dirá:
"Ninguém te ama...
                                   Como eu."

13/11/2010

10/10/2010

Fé de barro.


Vejo um mar vivo
O arcebispo sussurrando a esperança
A Mãezinha na Berlinda
Com seu manto burguês
Lágrimas, risos
Porque a fé está lá
Guardada! Trancada!
Velada pela sinceridade infantil
E a procissão caminha
Com destino sabido
Definido pelas promessas
Que aquela mimosa imagem fez
Ave, ave
Um “salve-se quem puder”
Troca-troca que Deus não quer
O teu Círio é feriado
Uma máscara de Fevereiro
Por que tu gritas?
Teu desespero é inútil
Neste ano fútil
Que deixaste passar
Vai! Continua olhando, rezando.
Religião bonita
Maria, Maria
Fotografia artesã
Para ser lembrada
Não adorada
Ela não está na Berlinda
Que tu esvaziaste
Com a tua fé de... Barro.

07/10/2010

Sê feliz!

Estampa em teu rosto
Um sorriso sarcástico
Joga fora
Teus sentimentos de plástico
Uma vida em vão
Para quê tanto desgosto?
Sê um pobre palhaço
Um louco, mais leve. Solto
Ninguém merece as tuas lágrimas
Ninguém merece o teu silêncio
Chora!
Cala-te!
Sê como uma nota musical
Assim: indesvendável
Sê interpretável
‘Pra ninguém te achar
Camufla-te nos olhos alheios
Olha-te no espelho
Quando quiseres voltar
Voltar a ver tua alma
Esquecer as caras, palavras
As cartas que te escreveram
Não! Faze melhor!
Lembra-te deles!
Só dos bons momentos
Guarda a caixa dourada
Vive tudo de novo!
Ignora-os, agora
Tem o que eles eram!
‘Pra tu seres mais
Ei, sê feliz!

05/10/2010

Eu desisto!

Não que eu nunca tenha pronunciado esta frase antes, mas, a bem da verdade, é penoso assistir ou viver as consequências que, até mesmo, a interpretação mais inócua desse verbo aí, que qualquer um é capaz de conjugar, pode trazer.
Sabem o que eu vejo? Eu vejo talentos exaurirem, amores definharem, certezas incertas e corações vazios. Pior: mentes vazias! Eu vejo saudade existir só por preguiça. É, seus preguiçosos! Vocês são os amigos mais displicentes do mundo! É odioso lembrar daquele tempo em  que nós nos víamos sempre e saber que não era por amor. Ora, agora vão dizer que não se sentiam OBRIGADOS a freqüentar o colégio?
Eu sempre tenho alguéns de reserva agora, no caso de eu, do nada, desamar certas pessoas. Desamar é um neologismo sacana que as pessoas chamam de verbo. Eu também, agora. Amo ninguém, porque ninguém me ama. Isso não é crise existencial. Isso é a verdade que eu criei ao lembrar que eu já olhei nos olhos de alguém que, do nada, me virou as costas. Não ligo!
Se tu és insubstituível ‘pra mim hoje, o fulano também é. Não amo vocês. Repito: NÃO AMO VOCÊS! Mas eu não desisto. Não, eu sempre faço melhor. Eu respiro esses verbos que vocês conjugam levianamente. Eu respiro o amor. O meu, o teu e o do fulano também.