01/01/2012

Nostalgia.*


“Eu sou aquilo que perdi.”
(Fernando Pessoa)

O sol exercia o mesmo efeito que aquele nos Círculos Polares Árticos e Antárticos, no verão. Mas era inverno. E a melancolia era mistura heterogênea à companhia do orgulho. Era a completude abraçando a despedida e o bom senso sustentando o próprio senso. Seus olhos eram lanternas acesas ofuscadas pela dúvida em detrimento da decisão minimamente considerada outrora. Embebedado pelo mito cavernal, cedera ao evento oportuno.
As íris trêmulas brindavam e escorriam antiteticamente. Sua consciência era grata, mas o inconsciente renunciava, pois que viver é optar. É continuar. Viver é também despedir-se. É moldar-se; vestir-se de memórias. Deve-se percorrer as escolhas passionalmente para que seja possível contemplar a completude, ainda que remota. É estar, a despeito de ser. Porque a vida dispensa a perenidade.
O lhano aprendera gradativamente que se deve apreciar e igualmente passear por sentimentos e sensações sapientemente; com abandono absoluto. E almejava-se que a melancolia não incorresse luto; perdas. Que as lágrimas não cessassem consoantes ao esquecimento, mas que emergissem ao deleite da anamnese.
Os superlativos há muito estavam subordinados aos adjetivos primitivos; móbeis à incerteza. Havia a pusilanimidade emocional e lisura branda. E fé. Suas aspirações eram pentágonos estéreis aos vácuos que ameaçam a união, contudo há de se pensar. Há de se parar. E o coração pulsava, portanto pensar à sua companhia seria suicídio.
Lembrara-se, afinal, da homogeneidade entre reciprocidade e proporção. E sorrira sutilmente, pois, impulsionado pela saudade antecipada, quis com todas as forças deleitar-se à nova ventura. Estar é o verbo que mais vale a pena, pois é a representação da pressa demandada pelo presente; da possibilidade de trasladar. É o perdão do egocentrismo hesitante paralelo à virtude da renúncia.
É cômica a dança dos tempos verbais. É cômico, outrossim, o ônus do sentimentalismo apesar de ser deleite. Ele lembrara-se com saudade do que ainda não era passado, e doía mais que o esquecimento. Lembrara-se de que seria eterno. Sem precisar ser ‘pra sempre.

*Para o amigo Alisson Silva.

2 comentários:

  1. de nihilo venit nihil (Lucrécio)

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  2. de nihilo venit nihil (Lucrécio)

    obs: desculpe pelo anonimo....

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