29/09/2011

O baile dos suspiros.


Eu não mereço o teu amor porque eu não te amo como tu me amas. E tu não mereces o meu amor porque tu não o conheces. Ah, como é belo o amor recíproco! E como é sonora a dança dos cavalos conduzindo a carruagem! Eu não te amo como tu me amas porque eu não quero. Porque eu sou vulnerável e igualmente submissa a minha subjetividade. Eu não te amo como tu me amas porque eu posso amar. Eu não te amo para que saibas, mas para que sintas.
Quanto eu te amo? Quanto?! Não sei! Eu soletro o substantivo, conjugo o verbo. Ainda assim tu não sentes a minha alma. Vejo que não é da minha voz que tu precisas ou da minha caligrafia. Vejo que queres tomar a minha mão para uma dança cômica. E verifico que tu me amaste materialmente.
E eu que tenho sido aplaudida, elogiada. Eu que sempre fui o paradigma dos meus precursores. Eu ... eu me vejo esquivada e igualmente mesquinha. Ai, eu queria gritar que eu te odeio! Só ‘pra contrariar. Mas eu não consigo porque o que eu encontro é um sabor incólume de amor.
Ah, por que os olhos deslumbrados pelo verbo se já sabes? Ó, grande amor! Esperaste de mim uma ventura. E eu de ti a grata sorte sublinhada em confissões.
Tu estás inscrito nas minhas paredes vítreas. Quebra! Rouba! E serás absolvido. Não percas tempo considerando as vírgulas e as reticências quando o que queres é só pontuar com um ponto. O meu amor é histérico e a minha austeridade brinca com a tua timidez. Podias ter abraçado a minha sombra e tê-la amado. Podias não mais me amar porque te enganaste outrora. Poderia eu ser uma desconhecida, mas o que tu conheces? Ah, estou enfastiada desse teatro! Onde é que está toda a gente do mundo?
E tu, meu amigo... ah, tu ainda sonhas e te comoves com essa virtualidade. Tenho dó dos teus sonhos porque eu nunca durmo. Esperando tu acordares.

Tu me dás a tua alma. Eu te dou o meu corpo. 

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